terça-feira, 31 de janeiro de 2012

2 Novas Mensagens

Estava deitada em sua cama, com o celular nas mãos. Esperava ansiosamente a resposta de uma mensagem. Não sabia bem o porquê, mas aquilo lhe trazia uma espécie de alegria. A resposta lhe trazia alegria, entretanto a ausência de resposta lhe angustiava. E o problema era que havia 30 minutos que esperava uma resposta. Tempo suficiente para seu amigo ler a mensagem e respondê-la. “Porque será que ele não respondeu até agora?”. “Eu de fato devo ser uma completa chata, não devia ter continuado, não devia ter respondido.” “A última mensagem nunca deve ser minha”. Divagando sobre as conseqüências que a aquela ausência de um retorno poderiam produzir, pensou em seu amigo. Era alguém próximo e distante. Contraditório isso, porém verdadeiro. Alguém que pouco conhecia, mas que tinha a importância de um amigo de infância. Sabia que poderia viver sem ele. Sabia que era capaz de não telefonar, de não mandar mensagens, de agir com indiferença. Mas não queria. Era alguém especial, alguém que trazia alegria ao seu sorriso apenas por se envolver em seus pensamentos. Alguém que respeitava tanto, a ponto de não se permitir criar devaneios inapropriados e inúteis sobre “um algo mais” ou aquela velha história de “amizade colorida”. Já tinha perdido antes uma amizade por não ter esse tipo de maturidade no passado. Não queria fazer novamente. Sabia que o método “tentativa e erro” não era a melhor opção, mesmo assim, vivenciou-o durante algum tempo e passou por períodos dramáticos. Depois de ter entrado na brincadeira, ter acariciado o fogo, perdeu um amigo. Não se envolveu plenamente, mas o pouco que entregou já foi suficiente para desmantelar o que poderia ter sido um vínculo sincero e eficaz transformando em um mero “Olá. Como vai?”.
Imaturidade. Sabia o que era isso. Sabia como era ruim identificar tal comportamento em si mesma. Porém, também entendia que a identificação já era um sinal de amadurecimento. Mas sinais não representam a completude do evento, do acontecimento, da mudança em si. Normalmente, depois do primeiro indicio, há um longo caminho para se seguir. Um caminho de pedras, de lágrimas, de resignações. Como lidar com o fato de que não conseguia ficar tranquila por não ter recebido a resposta de uma mensagem? Quanto sofrimento antecipado. Quanta insegurança. Quanta falta de domínio próprio. Não conseguir mais se concentrar no texto da aula seguinte por conta daquele simples, insignificante acontecimento? Bem, pelo visto, não era tão insignificante assim... Isso não era normal. Não era a maturidade que a abraçava naquele momento. Não era a segurança e a sua verdadeira paz pessoal que lhe faziam companhia naquele quarto. Sentia não conseguir ser menos sistemática. Sentia não conseguir ser melhor do que aquela garota deitada em sua cama, rodeada de textos, rodeada de pensamentos inoportunos. Fechou os olhos e orou. Falou com o único que realmente a entendia. Com aquele amigo que era indispensável, que nunca tardava em responder uma mensagem. O amigo que ela não poderia ficar distante. Isso era simplesmente impossível. Ele sempre estava ali. Sempre presente. Sempre constante. Fechou os olhos e articulou imperfeitamente palavras imperfeitas: “Pai, não consigo lidar com minhas emoções. Não consigo lidar com quem eu sou hoje, com todos meus defeitos, com minhas fraquezas de caráter, com minhas inconstâncias. Não consigo me manter firme, focada quando o que eu quero que aconteça não sai igual ao que planejei em minha mente. Sei que não deveria dá tanto valor a esse simples acontecimento. Isso só mostra que ainda sou alguém insegura. Não quero mais ser assim, mas por mim mesma eu não consigo mudar. Ele é só um amigo e eu sou só uma amiga. Não deve haver exigências nesse relacionamento. Não deve haver ressentimentos. Quero uma amizade pura e simples. Sem complexidades, ainda que, levando em conta quem eu sou hoje, isso pareça ser impossível. Eu sei que tu fazes o impossível, que muda o que parece ser imutável. E eu, aos meus olhos, hoje, pareço com essa coisa imutável. Cometo os mesmos erros, derramo as mesmas lágrimas sem sentido e me entrego aos mesmos devaneios desnecessários de outrora. Por mim mesma eu não consigo. Estou sempre a trair minha própria confiança. Faz tempo que decidi viver por algo maior que eu mesma. Faz tempo que decidi mudar por saber que Tu queres que eu seja diferente. Mas não posso alcançar seus padrões com a força do meu próprio braço. Não tenho as chaves que abrem as cadeias nas quais estou presa. Então eu te peço, faz-me livre. Livra-me de mim mesma. Livra-me dos meus próprios pensamentos, pois muitos deles não me fazem bem. Quero encontrar satisfação plena em Ti. Eu sei que só encontro plenitude em quem Tu És.”
Então, sem que percebesse, começou a derramar lágrimas por algo que realmente valia à pena. Eram lágrimas de renúncia, lágrimas que clamavam por transformação. Estava insatisfeita com suas reações. Sabia que podia ser melhor. Sabia que podia viver de outra forma. E agarrou aquela chance de mudar. Entendia que o único que podia promover a troca estava ali junto dela. Tinha certeza, convicção. Sentia Sua presença. Sentia Sua paz. Sentia Seu amor. Sentia Sua cura. E era uma cura instantânea. Foi um grito de socorro e, logo após, um atendimento sobrenatural arrebatando-a. Era lindo entender que Ele a amava, ainda que fosse inconstante, imatura, irreverente. E era esse entendimento que a fazia querer ser melhor do que era. Certa vez ouviu alguém dizendo: “Deus te ama do jeito que você é. Mas Ele te ama de mais para te deixar da forma que você está.” E essa frase era a mais pura verdade. Pode-se ser melhor do que se é hoje. Pode-se ser mais útil, mais servo, menos egoísta, menos tirano, menos implicante, menos preconceituoso. O necessário a se fazer é começar a olhar para si com a lente que Deus um dia olhou. A lente usada por Ele lhe permitiu entregar a vida por aquilo que enxergou. Foi uma visão tão boa que o fez padecer por aqueles que o assassinaram. E nós, recorrentemente, não somos capazes de amar a nós mesmos, de nos respeitar. Respeitar nosso corpo, nossa mente, nosso espírito. E, se não respeitamos a nós mesmos, acabamos por falhar na atividade de respeitar o outro. O outro que possui uma mente e um corpo diferente.
Aquela insegurança por não ter recebido a resposta de uma mensagem, era verdadeiramente algo tolo. Mas as denúncias feitas a partir daquilo sobre quem era ela, sobre o que sentia, como reagia diante das adversidades eram fortíssimas e valiosas. Pois, ao invés de pensar que ele podia simplesmente estar ocupado, ou que não tinha visto a mensagem, ou que, por qualquer outro motivo relevante, o rapaz não pudesse, naquele momento, responder sua mensagem, ela preferia se colocar como motivo da ausência: era chata, era irritante, era pouco inteligente, era orgulhosa, era arrogante, era imatura, não tinha muitos atrativos. Aquela ocasião de insegurança mostrava a quantidade de problemas que tinha consigo mesma. Ela sabia que não deveria se sentir de tal forma. Mas se sentia. E só conseguiu encontrar um caminho para a mudança quando percebeu as lágrimas que desciam pelo seu rosto. Quando percebeu que aquelas lágrimas representavam uma atitude de sinceridade. Amizades verdadeiras não possuem exigências. Mas não falta a elas sinceridade. E antes de conseguir ser sincera com outra pessoa, aquela menina começava a entender que precisava ser sincera consigo mesma. Que precisava dá os nomes certos aos sentimentos. Depois de entender aquilo, fez um esforço para fazer o que tinha que fazer. Após experimentar a graça de um Pai amoroso, sabia que, com Ele, podia realizar qualquer coisa. Colocou o celular no silencioso e voltou para seus textos. Fez seus trabalhos, respondeu alguns emails atrasados e foi se arrumar para dormir. Quando se deitou pegou o celular para ligar o despertador. A telinha denunciava: 2 Novas Mensagens. Abriu sua caixa de entrada. Duas mensagens do mesmo remetente. A primeira dizia: “Hey, não respondi antes porque a bateria do meu celular descarregou enquanto eu estava fora de casa. Mas concordo com o que disse.” A segunda dizia: “Durma bem! Eu amo você.”
Domine suas emoções, pois, se elas te dominarem, você acabará não vivendo.

Day F.S. ^^

Um comentário:

Reflexão Dela disse...

Amei Florzinha! Que texto lindo e profundo, de uma forma tão linda Deus transforma o nosso cotidiano em experiências perfeitas com ele! bjs

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