terça-feira, 29 de maio de 2012

Romance

Um quarto escuro. Uma garota dormindo e uma mente em pleno funcionamento. Um cenário calmo tomava conta daquele momento onírico. Havia grama, árvores, um céu azul. Então, a menina do quarto era a menina do sonho. Sentada ela admirava a paisagem. Alguns segundos depois, um amigo se aproximava. Um amigo? Bem, seus sentimentos queriam lhe dizer que era mais que apenas um amigo. Ela não ia dormir pensando em todos os outros amigos, mas naquele sim. Ela não sentia um frio na barriga ao pensar em outro alguém, mas naquele sim. Ele era um valoroso candidato a ultrapassar os limites da amizade. Ele senta-se ao seu lado. E diz "Olá" fitando-a intensamente como se não quisesse perder nenhum momento daquela visão que lhe era permitido ter.
-Hey, rapaz! Ela responde de forma carinhosa com um sorriso simples.
-Estive pensando em umas coisas... Ele prossegue e para por alguns instantes. Parecia estar tentando encontrar as palavras certas. O que era um pouco estranho. Ele não era o tipo de pessoa que tinha dificuldades para se expressar. Mas, no que diz respeito às coisas do coração, nem sempre é fácil desenvolver um discurso linear. Não há muita linearidade na vida.
Ela então dá um sinal para que ele prossiga e o rapaz sem rodeios e de maneira seria solta, "em nós dois".
O coração ingênuo daquela menina então sofre um aumento de velocidade, os intervalos entre as batidas tornam-se menores. "Ele pensa em nós dois? Será que da mesma forma que eu penso? Bem... É o que parece. Meu Deus, seria isso um sonho? Eu deveria falar alguma coisa agora, certo?" Foi infeliz na tentativa de dizer qualquer coisa, mas o sorriso que se figurou em seu rosto foi suficiente para que ele entendesse que podia dar continuidade aquela exposição.
-Pensei em como eu e você poderíamos ser incrivelmente ditosos juntos, em como eu sinto que poderia envelhecer ao seu lado, ter filhos com você e dispor-me a te fazer uma pessoa completamente feliz.
Ela continuava sorrindo. Saboreando cada uma daquelas palavras. Não sabia bem o que falar, não conseguia pensar em palavras bonitas. Então, ao encará-lo novamente nos olhos, ele pode ver como seus olhos estavam marejados. Aquilo era o sinal da reciprocidade do sentimento. Aproveitaram aquele momento por um instante. Até que ele aproximou-se mais e segurou suas mãos sem desviar seus  olhos dos dela. "Como você é linda", ele pensa em segredo. Mal sabendo que que os pensamentos dela caminhavam pela mesma estrada.
Na praça em que se encontravam não havia ninguém. Aqueles instantes eram deles. Era o momento perfeito para tirar o cabelo que caia sobre o rosto dela tendo uma desculpa para tocar em sua face e dar início a uma aproximação mais intensa que culminaria com um beijo leve e doce. Mas nada disso foi feito. Eles apenas continuaram se olhando. Exercendo uma cumplicidade silenciosa. Ambos sabiam que era o que devia ser feito por hora. Não havia ninguém ali, mas os céus os assistiam. Os céus os assistiam! Tinham total convicção disso. Os dois individualmente tinham conhecimento real de que tinham um dono e era isso que faziam deles duas pessoas maduras. Ao invés de beijá-la, ele pronunciou algumas palavras bem caras:
-Olhe, eu gosto muito de você. Muito mesmo. Eu a amo como amiga, mas não sei se devo amá-la como minha mulher. Somos muito jovens ainda e a nossa natureza carnal nos engana facilmente. Não posso me deixar levar unicamente pelo que o meu coração tem me dito nesses últimos dias. Isso seria violar meus princípios. Não sei... Realmente não sei dizer se deveria estar sentindo o que estou sentido, mas quero honrá-la. Se não puder amá-la como mulher, muito de meus atuais sentimentos não deverão amadurecer. O seu olhar me diz que o que eu sinto é retribuído por você, mas isso não deve ser suficiente. Não podemos deixar que seja porque sabemos que não vivemos para nós mesmos. Não depende só de nós e do que achamos que queremos. Ignorar Deus ao confessarmos o que sentimos um pelo outro seria um grande erro. Nós não sabemos de tudo. Sentimentos são mutáveis, mas o que vem de Deus é eterno. Devemos fielmente dançar essa música de acordo com o ritmo celestial. As coisas darão certo se fizermos agora o que Ele considera ser o certo.
Ao pronunciar aquilo, algumas lágrimas tomaram conta do rosto daquele jovem homem. Realmente aquelas palavras lhe custaram muito. Naquele exato momento ele estava morrendo, ajoelhando sua alma diante da cruz de Cristo. Aquilo sim era intensidade verdadeira. Aquilo sim era renúncia real.  A jovem mulher concordou com cada palavra que fora dita por ele e o seu coração não doía menos.
Os dois decidiram perder para Cristo. Suas vontades próprias não deveriam prevalecer a vontade de Papai. Ao invés de compartilharem seus corpos, eles compartilharam a cruz. Ao invés de sentimentos impensados, eles compartilharam princípios de um viver para a eternidade. E para qualquer estranho que tomasse conhecimento daquele caso, qualquer jovem comum que passasse por ali em tal instante aquilo poderia parecer besteira, burrice, sem sentido. Entretanto pessoas peculiares vivem a partir de princípios peculiares. Uma cena romântica verdadeira não é aquilo que encontra-se projetado nas telas de cinema. Um romance é um enredo de coisas inacreditáveis. É importante salientar que o inacreditável também custa caro. É difícil de ser alcançado. Aqueles dois tinham o entendimento de que um sentimento mútuo de gostar não significa que tal união é o que Deus planejou para os dois. E, ainda que fosse para os dois ficarem juntos, envelhecerem em cumplicidade, existe um tempo certo e favorável a esse acontecimento. E ambos sabiam, devido a intimidade que tinha com o Pai celestial, que aquele ainda não era esse tempo. A estação era outra. Ainda era tempo de firmarem suas identidades em Cristo, de se apaixonarem por Ele perdidamente, de encontrarem nEle completude real. Aquele velho papo de "você me completa"? Tinham convicção de que tratáva-se de príncipios distorcidos. A verdade era que pessoas completas constróem relacionamentos completos.
Lágrimas, sorrisos, grama verde, céu azul e uma luz forte vinda de um sol que batia diretamente naquele rosto. De repente, a menina do sonho voltava a ser a menina do quarto. Ao abrir seus olhos, tentando entender o que se passava, a primeira coisa que lhe veio a mente foi "É... Deus acabou de falar comigo por meio de um sonho". Fazia tempo que orava pedindo para ser convencida a respeito de quais escolhas e atitudes tomar em relação a relacionamentos daquele tipo ditos românticos. O coração dela andava inquieto. Seu impulso primário era alimentar o que sentia com pensamentos, conversas com o simples "deixar-se sentir". Mas sabia que não deveria. Não era tempo. Queria, mas aquilo só fazia com que embaralha-se suas prioridades. Lembrou-se da passagem bíblica que narra o momento de Jesus no jardim do Getsêmani "não seja feita a minha vontade, mas a tua". Em todo tempo, certo? Em qualquer circunstância, certo? Em todas as áreas, certo?
Sentimentos existem para serem sentidos, mas também devem ser dominados. Ela sabia que deveria colocar o que sentia diante de Deus. Ele era o dono dela. Sabia que esse entendimento significava contrariar. Contrariar o mundo, a cultura. Mais que isso, significava contrariar até mesmo o que estava sendo pregado dentro das congregações cristãs. Sabia que "normal" e "certo" não eram sinônimos.
A menina no quarto entendia que o rapaz do sonho era o modelo de rapaz possuidor de um caráter igual ao de Cristo. E era isso que almejava quando pensava em dividir sua jornada com alguém. Sabia que, apesar de estar rodeada de rapazes negligenciadores de uma verdade tão nobre, meninos iguais aquele do sonho existiam. E certamente o que fez deles homens com aquele tipo de caráter foi o tempo que dedicaram a Deus. Eram meninos que sabiam avaliar bem suas prioridades. Meninos que entendiam o propósito de relacionamentos daquele tipo. Meninos que davam valor as coisas eternas.
Aquele tempo era tempo de crescer, tempo de se tornar a menina não apenas daquele sonho - com a mesma maturidade e mesma disposição a agir de acordo com os príncipios de Deus -  mas também a menina dos sonhos de algum rapaz específico. Entretanto, seu maior sinal de maturidade encontravá-se no fato de que tinha plena certeza que deveria mudar seus princípios mundanos, suas atitudes impensadas não por causa de um homem ou por causa de um sonho de uma vida a dois, mas sim porque aquilo era o que Deus esperava dela. Ainda que não houvesse garantias, aquele era o caminho em que deveria prosseguir.

Dayane F.S ^^

"Nossos maiores problemas não estão nos obstáculos do caminho, mas na escolha da direção errada".

"Mundanismo é o sistema de valores de qualquer cultura que faz o pecado parecer normal e o que é correto parecer estranho." (David Wells)

"Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens. Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente. Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus CristoO qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo particularmente seu, zeloso de boas obras." (Tito 2: 11-14)

2 comentários:

Elisama Ximenes disse...

"Ao invés de compartilharem seus corpos, eles compartilharam a cruz. Ao invés de sentimentos impensados, eles compartilharam princípios de um viver para a eternidade."
Entendemos o viver para Cristo quando entendemos que a eternidade que Ele tem reservada para nós é plena, é para todas as áreas da nossa vida e por muito vezes, tratamos da parte de relacionamentos como algo a parte em nossas vidas. E você traduziu isso perfeitamente em palavras tão bem colocadas *-*

Preta Arsenio disse...

Nunca havia lido algo tão profundamente lindo, poético e cheio de verdades absolutas a respeito do amor que deve ser cultivado em nós. Me ajudou muito. Eu sempre fui impulsiva, romântica e vivia intensamente meus sonhos românticos. Até que os levei a realidade e me machuquei e me feri muito, por depositar minha esperança em um relacionamento. Foi apenas um e esse um quase me destruiu. Hoje ao sentir algo por alguém, não dou asas a imaginação. Ponho ele e eu aos pés de Deus, conto pra Ele minhas expectativas e ansiedades e deixo Ele guardar meus sentimentos. E foi imensamente gratificante saber que não estar apaixonada tb é bom, porque tb não estou ferida.

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